Já de noite, a caminho de casa, admiro a noite pela janela do táxi. Amo noites chuvosas e a luz refletida nas poças d’água. É um misto de nostalgia e charme. As noites chuvosas de inverno me relaxam muito. Adoro adormecer ao som das gotas de chuva no vidro da janela. Isso é o que chamo de paz!
Saio do carro correndo para tentar me molhar o menos possível. Subo as escadas do prédio e, no alpendre, fico à procura da chave do apartamento. Por que nunca a pego antes de sair do carro? Todos os dias gasto uns 5 min à sua procura dentro do caos que é minha bolsa. A chuva e o cansaço apertam e eu descubro que estou sem as chaves. Toco o interfone, torcendo para Jorge, meu namorado estar em casa. Ninguém atende. Só me resta sentar à espera que ele ou algum vizinho chegue.
Ao encostar na porta, descubro que está destrancada. No corredor, vejo meu apartamento aberto. Finalmente, entro em casa, ansiosa por um banho quente e uma caneca de chá. Porém, algo está errado. A casa está às escuras. Entro e logo chamo o Jorge. Nada. Acendo as luzes e nada, também. Só me faltava essa, sem luz para meu banho quente. Ligo a lanterna do celular e vou até o quarto. Às escuras. O banheiro, idem. A cozinha está com a porta da varanda entreaberta. Vou até o lado de fora ver se, de repente, ele saiu para levar o lixo ao contentor. No exterior, só a chuva e o uivo do vento. De repente, sinto um arrepio na espinha, de que algo está errado. Apalpo a bancada da cozinha em busca da faca de carne no suporte e ela não está. Fico parada, com os olhos tentando me adaptar à escuridão do ambiente, enquanto meu corpo treme de medo. Sim, há algo de muito estranho acontecendo. Tem alguém no apartamento. Alguém que pode ter machucado ou matado meu namorado e que está escondido em algum lugar esperando só o momento de me atacar.
Nas pontas dos pés, vou até a porta da saída na esperança de fugir. Neste instante, sinto alguém batendo fortemente em minha cabeça e desmaio.
Acordo, deitada na banheira com o chuveiro pingando água fria em minhas pernas. Sinto frio! A cabeça dói. Que tipo de tortura é essa?
Ao sentir tocarem em minha cabeça, abro os olhos e grito, assustada. É Jorge, todo preocupado vestindo um roupão, me levantando do chão. Ele não tinha aberto a porta porque estava no banho. No fim, tudo não passou de um sonho ao adormecer, cansada, encostada à porta do prédio. Não era bem esse o desfecho que eu esperava para esta noite.