Sempre fui saudosista e, volta e meia, revivo o passado, em especial aquele que não conheci.
O romantismo e a elegância das décadas de 20, 30 ou 40 estiveram em meus devaneios na juventude.
Jazz, bossa nova, rockabilly e as canções de Elvis Presley e The Beatles embalaram meus sonhos infantis e adolescentes.
As histórias que cresci a ouvir de meus pais, sobre a vida em Portugal e em Moçambique durante sua juventude, faziam-me viajar no tempo. Por incrível que pareça, muitas vezes eu achava que podia sentir o aroma dos pinheiros na aldeia portuguesa, ouvir os pregões das varinas pelas ladeiras do bairro alto ou apreciar o sabor do caril que os indianos cozinhavam em Moçambique.
Muitos livros que li também contribuíram para essa estranha sensação de sentir falta do passado, tais como “Meu Pé de Laranja Lima”, “A Viuvinha”, “Ana Terra”, “Éramos Seis”, dentre outros.
Com a maturidade, pensei que eu ficaria mais pé no chão. Mas, não. Continuo sentindo saudades de tudo aquilo, com o agravamento de que, agora, sinto falta também do passado vivido, das brincadeiras de criança, das músicas da juventude, dos meus amados pais e dos lugares que conheci.
Lembranças sempre levam-me a algum lugar, a alguém ou a algum momento especial, vivenciado ou não. Acho que é por isso que história era a minha matéria favorita na escola. É por isso, também, que adoro assistir a filmes baseados em fatos reais e visitar museus, cidades antigas e locais históricos. Viajar não poderia ser diferente.
Na Europa, fico tão embevecida, pois a arquitetura das cidades é um verdadeiro museu à céu aberto! Naquele continente, não consigo decidir qual cidade visitada, grande ou pequena, me extasiou mais, se Paris, Coimbra ou Verona.
Em Assis, senti saudades de Francisco caminhando pelas ruelas, pregando aos passarinhos e arrebatando outros jovens.
Em Lisboa, senti saudades da infância de meus pais ao visitar o Miradouro de São Pedro de Alcântara, onde eles brincavam na década de 20.
Em Paris, senti saudades de Ernest Hemingway escrevendo seus romances ao almoçar no Café Les Deux Magots.
Em Coimbra, enquanto lanchava no Café Santa Cruz, ao lado da Igreja de mesmo nome, senti saudades de meu pai quando levou minha irmã para comer lá, nos anos 60.
Eu teria muito mais saudades a descrever nas poucas viagens, segundo eu, que fiz à Europa.
Para mim, visitar o Velho Continente não é turismo, mas sim conhecimento e oportunidade de vivenciar a história pessoal e mundial.
Mesmo no Novo Mundo, no Continente Americano, encontrei joias da história, ao visitar as cidades de Minas Gerais, as fazendas de colonização italiana, no Rio Grande do Sul, o centro do Rio de Janeiro, o roteiro do Fim do Mundo, em Ushuaia, e as ruínas de Teotihuacan, no México, só para citar alguns.
Nos EUA, conheci riquezas memoráveis, como o centro antigo da cidade de Albuquerque, no Novo México, e os subterrâneos de Seattle, que são as ruas originais da época de sua colonização, até o grande incêndio de 1889.
Continuo sentindo saudades do passado, vivenciado ou não. E são essas saudades que me movem para o futuro. Eu vivo o presente da melhor maneira possível, para que no futuro eu continue a ter possibilidades de viajar mais para matar as saudades que ainda sinto do passado.
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